O CISNE QUE DANÇAVA

 

Republico a pedido de uma amiga o texto da crônica que escrevi anos atrás sobre a maravilhosa bailarina russa Anna Pavlova e a receita do doce criado em sua homenagem
Quem a viu dançar garante que ela "voava no palco como um cisne”. Nenhuma bailarina combinou tão bem a leveza de movimentos e o lirismo interpretativo. A plateia emudecida não tirava os olhos de sua figura. Um biógrafo afirmou que o auditório ficava paralisado. “Ouvia-se até o zumbido dos insetos”, garantiu um deles. Nascida em São Petersburgo, na Rússia, e falecida em Haia, nos Países Baixos, Anna Matveievna Pavlova (1881-1931) seduziu o mundo da arte entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Suas interpretações extremamente pessoais deram um novo sentido ao balé clássico.
Foi a primeira intérprete de “A Morte do Cisne”, o mais famoso solo da história da dança, e também a melhor dançarina de Giselle, joia do balé romântico. Graças a sua popularidade, Anna Pavlova ajudou a difundir o balé clássico. Ela dançou com Vaslav Nijinski e Mikhail Mordkin, dois dos maiores bailarinos de seu tempo. Apresentou-se 3.650 vezes, em inúmeros países, inclusive no Brasil. Foi admirada e elogiada por contemporâneas ilustres, de Sarah Bernhardt a Isadora Duncan. A certa altura, praticamente deixou de dançar balés inteiros, restringindo-se a trechos de sucesso. A legião de fãs a chamava carinhosamente de Pavlovtzi, ou seja, de Pavlovinha.
A bailarina aplaudida mundo afora teve uma sobremesa igualmente delicada batizada com seu nome. Trata-se de um merengue no qual as claras de ovos são batidas intensamente e, quando se tornam firmes, recebem açúcar, uma pitada de sal, um pouco de amido de milho (maisena) e um toque de vinagre. A seguir, vai ao forno e, esfriando, é coroado com chantilly e frutas coloridas. Há quem adicione sorvete de creme e, no final, um pouco de licor de frutas (limão ou laranja) ou de vinho do Porto. Entretanto, são adereços que não constavam na receita original. Como a ilustre personagem que homenageia, de tão leve... parece voar.
Austrália e Nova Zelândia disputam a invenção da Pavlova e a converteram em sobremesa nacional. A grande bailarina se apresentou nos dois países no ano de 1926. Os australianos afirmam que o doce foi criado em Perth, em 1935, pelo chef Herbert Sachse. E que seu conterrâneo e fã Harry Nairn, do The Esplanade Hotel, inconsolável com a morte da bailarina, designou-o Pavlova. Já os neozelandeses sustentam que desde 1927 preparavam uma sobremesa chamada Pavlova, porém com receita diferente. Garantem que a inventaram em 1934, ou talvez anteriormente, com outra denominação, e tendo o suspiro uma consistência de marshmallow. Em algum momento, que poderia ser o ano de 1935, e sempre precedendo os australianos, deram-lhe o nome da bailarina russa.
Anna Pavlova nasceu em São Petersburgo e era filha de uma camponesa pobre, que se apaixonou por um soldado e foi mãe solteira. Nunca falava do pai e jamais o procurou, apesar de ele ter virado um rico comerciante. A mãe, preocupada em dar-lhe boa educação, levou-a em 1889, aos 8 anos de idade, ao Teatro Mariinski, de sua cidade natal. Ali, ambas assistiram ao balé “A Bela Adormecida”. O espetáculo mudou a vida da garota pobre. Motivada por ele, Anna Pavlova foi estudar dança clássica.
Apesar de barrada na primeira tentativa, em razão da pouca idade, conseguiu ser aceita em 1891, com apenas 10 anos, na prestigiada Escola Imperial de Balé de São Petersburgo. Graduou-se aos 18 anos, entrou para o Balé Imperial Russo e começou a se apresentar no Teatro Mariinski. Em 1908, estreou no Théâtre du Chatelet, de Paris, com o Ballets Russes de Serguei Diaghilev. Cinco anos depois, passou a se exibir por conta própria, tendo como empresário Victor Dandré, seu futuro marido. Em 1914, mudou para Londres e excursionou diversas vezes ao exterior.
Em 1918, dançou no Teatro da Paz, de Belém, no Pará. Na década de 1920, apresentou-se nos teatros municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Em 1930, um acidente no meio do caminho parou o trem que a transportava nos Países Baixos. Anna Pavlova desceu para ver o que acontecia. Como estava frio e ela usava roupas leves, contraiu uma gripe que virou pneumonia. Morreu em janeiro de 1931, antes de completar 50 anos de idade. Pressentindo o fim, pediu a roupa que usou em “A Morte do Cisne” e deu a ordem: “Execute o último compasso bem suave”. Dançava imaginariamente seu último balé.
PAVLOVA
Serve 6 porções
INGREDIENTES
.4 claras de ovos em temperatura ambiente
.250 g de açúcar
.2 colheres (chá) de amido de milho (maisena)
.1 colher (chá) de vinagre branco
.1 pitadinha de sal
ACOMPANHAMENTOS
.Sorvete (ou chantilly)
.Limoncello
.Calda de amoras
.Frutas tropicais
PREPARO
1. Coloque as claras na tigela da batedeira, adicione uma pitadinha de sal e bata em velocidade baixa, até que comecem a espumar.
2. Aumente a velocidade e continue batendo. Quando estiverem bem firmes, junte gradualmente o açúcar, batendo após cada adição, até o merengue ficar espesso e brilhante.
3. Com uma colher, misture ao merengue, delicadamente, o amido de milho e o vinagre.
4. Num tabuleiro forrado com papel-manteiga, desenhe um círculo com cerca de 20 centímetros de diâmetro e espalhe uniformemente o merengue, como se fosse um bolo. Se quiser, use um saco de confeitar.
5. Achate ligeiramente o topo com uma espátula e alise os lados.
6. Asse em forno baixo (150ºC), preaquecido, por cerca de 30 a 40 minutos, até a parte externa ficar estaladiça.
7. Apague o forno e deixe o merengue esfriar lá dentro, com a porta entreaberta.
8. Descole com cuidado o
papel-manteiga do merengue já frio.
9. Sirva a pavlova gelada, com o sorvete (ou chantilly), um lance de limoncelllo, a calda de amoras e as frutas tropicais.
.Receita assinada pelo restaurateur Carlos Inglesias, que integrava o cardápio do Porto Rubaiyat da Rua Amauri, em São Paulo, SP.
IMAGENS
1)Anna Pavlova: dançando “A Morte do Cisne” (Wikipédia)
2)O doce em sua homenagem: Austrália e Nova Zelândia disputam sua invenção (Wikipédia)
Eiji Tomimatsu, Elisete Toledo e outras 182 pessoas
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